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Manuel António Pina

Manuel António Pina

A caneta preta

Tenho uma caneta

Que escreve sozinha

E com uma letra

Que não é minha.

 

(Porque a minha letra

É grande e certinha

E a letra da caneta

É fina e desalinha).

 

Ensinei-a a escrever

E agora só escreve

Aquilo que quer

E não o que deve.

 

Preciso de fazer

Contas e problemas

Mas ela só quer

Escrever poemas.

 

Está apaixonada

Por um lápis de cor

E não faz mais nada

Senão versos de amor.

 

Que hei de eu fazer?

Deixar de escrever?

Apaixonar-me também?

Mas por quem? Mas por quem?